terça-feira, 26 de junho de 2012

O milagre dos peixes e dos pães realmente existiu?

Por Amilcar Del Chiaro Filho Ao conversar com alguns amigos espíritas, entristecemo-nos pelo modo com que observam os Evangelhos, aceitando-os de capa a capa, ou como está escrito, sacralizando os conceitos ali emitidos, como se os evangelistas não tivessem sido anotadores dos acontecimentos, e terem escrito muitos anos depois da desencarnação do Mestre Galileu. Para nós, essas pessoas estão abdicando do direito de questionar, argüir, e procurar explicações mais aceitáveis para alguns acontecimentos. Vamos exemplificar com uma passagem que nos veio à mente; a da multiplicação dos pães e peixinhos. Teria essa passagem ocorrido, realmente? Se ocorreu não teria sido aumentada ao passar pela tradição oral de boca a ouvido durante três décadas, até ser escrito o primeiro Evangelho? Hoje, com o conhecimento espírita, sabemos que pode ter acontecido realmente, mas nunca através de milagre, pois as leis divinas não são derrogadas. Vamos examinar sob a nossa ótica, o que poderia ter ocorrido: Sabemos que nas sessões de efeitos físicos, os Espíritos podem construir alguns objetos usando os fluidos apropriados dos médiuns. Sabemos de casos em que os eles fabricaram e/ou transportaram bombons e outras guloseimas. Kardec explica no Livro dos Médiuns e na Revista Espírita que a matéria está disseminada no espaço e os espíritos podem aglutiná-la, com a força do pensamento, para um determinado efeito. Ele chamou isto de, laboratório do mundo invisível. Ora, Jesus de Nazaré tinha uma extraordinária força psíquica, e o mundo espiritual estava à sua disposição para ajudá-lo. Portanto era perfeitamente possível a materialização de pães e peixes suficiente para alimentar aquelas pessoas. A segunda hipótese seria a do fenômeno de transporte. Os Espíritos teriam transportado o pão assado e o peixe frito de lugares onde eles existiam. Certamente, as casas de moradia e algum comércio. Esta tese esbarra em duas dificuldades: 1ª) A desonestidade, pois algumas pessoas sofreriam prejuízos. 2ª) Não se fabricava tantos pães, pois cada família fazia o suficiente para o seu consumo. Não havia casas comerciais, como as que conhecemos hoje, que comercializam o pão. A nossa lógica tem outra explicação: a fraternidade, a solidariedade. Como aquele rapazinho, muitas outras pessoas deveriam ter levado algum lanche. Ao vê-lo entregar os seus pães e peixinhos, muitos outros fizeram o mesmo, e todos se fartaram. Então não houve um milagre? Houve sim! O milagre da fraternidade a ponto de alguns dividirem o que era apenas seu. Um último lembrete: para reunir cinco mil homens, fora as mulheres e crianças, seria necessário esvaziar centenas de aldeias e pequenas cidades da judéia, pois cada aldeia deveria ter 150 moradores ou um pouco mais. Os evangelistas mentiram? Não! Mas talvez tenham se entusiasmado. Porém deixaram uma lição: a solidariedade. A fraternidade faz milagres! Nota: Nosso querido Amilcar Del Chiaro Filho desencarnou em 2006.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Primeira MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES - Pastorino



Mat. 14:15-21

15. Tendo chegado a tarde, aproximaram-se dele seus discípulos, dizendo: "este lugar é deserto e a hora está avançada; despede as multidões para que, indo às aldeias, possam comprar seus alimentos".
16. Mas Jesus disse-lhes: "Não precisam ir; dai-lhes vós de comer".
17. Eles disseram-lhe: "Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes".
18. Disse-lhes ele: "Trazei-mos cá".
19. E ordenando à multidão que se reclinasse sobre a relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, deu graças e, partindo os pães, entregou-os aos discípulos, e os discípulos os entregaram à multidão.
20. E todos comeram e se fartaram; e eles apanharam dos fragmentos doze cestos cheios.
21. Ora, os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças.

Luc. 9:12-17

12. O dia começava a declinar e, aproximando-se de Jesus os doze disseram: "Despede a multidão para que, indo às aldeias e sítios vizinhos, se hospedem e achem provisões, pois estamos aqui num lugar deserto".
13. Ele, porém, lhes disse: "Dai-lhes vós de comer". Responderam-lhe eles: "Não temos mais que cinco pães e dois peixes, a não ser que devamos ir comprar comida para todo esse povo".
14. Pois eram quase cinco mil homens. Então disse a seus discípulos: "Fazei-os reclinar-se em turmas de cinquenta cada uma".
15. Assim o fizeram, o mandaram a todos reclinar-se.

16. E tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, deu graças e os partiu; e entregou aos seus discípulos, para que os distribuíssem à multidão.
17. Todos comeram e se fartaram; e foram recolhidos doze cestos dos fragmentos que sobraram. 


Marc. 6:35-44

35. E já estando a hora muito adiantada, chegando-se a ele seus discípulos, disseram: "este lugar é deserto e já é muito tarde;
36. despede-os para que vão aos sítios e às aldeias circunvizinhas comprar pão para si, pois que têm eles para comer"?
37. Mas respondendo, disse Jesus: "Dai-lhes vós de comer". E disseram-lhe: 'Deveremos, então, ir comprar duzentos denários de pão e dar-lhes de comer"?
38. Mas ele lhes perguntou: "Quantos pães tendes? ide ver". Depois de se terem certificado, responderam: "Cinco pães e dois peixes".
39. Então ordenou aos discípulos que a todos fizessem reclinar em grupos sobre a relva verde.
40. E sentaram-se em grupos de cem e cinquenta.
41. E ele tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, deu graças e, partindo os pães, os ia entregando aos discípulos para eles distribuírem; e repartiu por todos os dois peixes.
42. Todos comeram e ficaram satisfeitos.
43. E recolheram dos fragmentos doze cestos cheios de pão e de peixes.
44. Ora, os que comeram os pães foram cinco mil homens.

João, 6:5-13

5. Então, levantando os olhos e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: "Onde compraremos pão para que eles comam"?
6. Mas dizia isso para experimentá-lo, pois já sabia o que ia fazer.
7. Respondeu-lhe Filipe: "Duzentos denários de pão não lhes bastam para que cada um receba um pouco".
8. Um de seus discípulos, chamado André, irmão de Pedro, disse-lhe:
9. "Está aqui um rapazinho que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos, mas que é isto para tantos"?
10. Disse Jesus: "Fazei que os homens se reclinem". Ora, havia naquele lugar muito feno. Recostaram-se, pois, os homens em número de cerca de cinco mil.
11. Jesus, então, tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os aos discípulos, e os discípulos aos que estavam reclinados; e do mesmo modo os peixinhos, quanto queriam.
12. Depois de saciados, disse Jesus a seus discípulos: "Recolhei os fragmentos que sobraram, para que nada se perca".
13. Assim os recolheram e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que haviam comido.

Pelas anotações dos quatro evangelistas, o percurso do barco e a caminhada do povo deve ter ocorrido     na parte da manhã, pois eles anotam que tudo começou quando "a tarde começa a declinar" (cerca de 15 ou 16 horas); que era a “primeira parte da tarde", deduz-se do vers. 23, onde se repete que "a tarde chegara", isto é, a entrada da noite, depois das 18 horas.
Ao ver Jesus entusiasmado a falar e a multidão pendente de suas palavras de amor, os discípulos resolvem "quebrar o encanto", trazendo o Mestre Inefável à realidade da vida material. Chamam Sua atenção sobre a hora e a carência de alimentos naquele local, sugerindo que despeça a turba para que ela tenha tempo de comprar comida. A essa hora, ainda seria possível encontrar sítios e lojas onde consegui-la.
Mas Jesus os provoca: "dai-lhes vós de comer"! Espanto geral: "a toda aquela gente"?
Segundo João, Jesus volta-se para Filipe, (será porque ele teria nascido nessa Betsaida?) e se informa "onde seria possível comprar pão". Filipe espanta-se, pois duzentos denários (um denário equivale à importância atual de um dólar) não bastariam.
O Mestre ordena que verifiquem quantos pães havia. André, irmão de Pedro, diz que "um rapazinho tem cinco pães de cevada e dois peixinhos”.
Antes de fazer qualquer coisa, Jesus manda que se recostem todos os ouvintes em grupos de 50 e 100, que se reclinem na "relva verde" (o que indica estarmos na primavera, única época do ano em que cresce erva verde nessa região). Já por João sabemos que estávamos nas vésperas da Páscoa (abril do ano 30), a segunda Páscoa da "vida pública" de Jesus. A divisão em grupos facilitou a contagem dos homens presentes.
Depois Jesus começa a ação. "Levanta os olhos ao céu" (cfr. Marc. 7:34; João 11:41 e 17:1), gesto que diferia do costume israelita: "a regra de orar é ter os olhos baixos e o coração levantado ao céu", diz Rabbi Ismael Bar José (cfr. Strack-Billerbeck, o. c. t. 2, pág. 246). A oração prescrita para antes de comer-se o pão era: "Louvado sejas Tu, Senhor, nosso Deus, Rei do universo, porque fizeste a terra produzir o pão". O termo grego eulógêse tem o sentido de "dar graças", "agradecer" (donde vem o nosso "elogio") - João usa eucharistêsas, que tem a mesma significação - melhor que benzer ou abençoar.

Depois disso "partiu o pão", ritual comum entre os israelita: o dono da casa sempre procedia à klásis tou ártou para distribuí-lo, depois da ação de graças, aos convivas ou hóspedes.
Todos comeram e se fartaram. Depois Jesus manda recolher os fragmentos em cestos (grego kophínos, hebraico quppâh), que todo israelita levava sempre consigo quando fazia qualquer excursão. Lógico que o povo, tendo saído às pressas, não os tinha; mas os discípulos (exatamente doze) deviam tê-los; levado.

* * *

OBSERVAÇÕES

1. Quanto à historicidade do fato - É atestado pelos quatro evangelistas e repetido mais tarde uma segunda vez por Mateus (15:32-39) e Marcos (8:1-10) e faz parte de toda a tradição evangélica e cristã dos primeiros séculos.
2. Quanto ao número à e pessoas - Parece realmente que reunir cinco mil homens (fora mulheres e crianças) numa "corrida" por aldeias que podiam ter, cada uma, somente algumas centenas de habitantes, levando-os a uma planície deserta a cinco ou dez quilômetros, não deve ter sido muito fácil. Cinco mil pessoas é, de fato, uma multidão considerável.
3. Quanto à novidade do fato - Não foi inédito. Lemos em 2.º Reis, 4:42-44, o seguinte: "Um homem veio de Baal-Shalishah e trouxe ao Homem de Deus (Eliseu) uns pães de primícias, vinte pães de cevada e trigo novo em seu alforge. Eliseu disse: "Dá ao povo para que coma". Disse-lhe seu servo: "Que dizes? Hei de eu por isto diante de cem homens"? Porém ele retrucou: "dá ao povo para que coma, porque assim diz YHWH: comerão e sobrará" . Então lhos pos diante, comeram e ainda sobrou, conforme a palavra de YHWH".
4. Quanto à possibilidade da realização - São aventadas várias hipóteses, quanto à possibilidade física
ou natural dessa multiplicação de pães. Naturalmente, certas escolas nem cogitam desse estudo, pois admitem a prióri o milagre, que jamais podemos aceitar, pelo menos como é ele definido: "um fato contra as leis da natureza". Se fora dito: "contra as leis que conhecemos", poderíamos aceitar o "milagre" sem escrúpulos, pois de fato desconhecemos a grande maioria das leis da natureza; e mesmo as que "pretendemos" conhecer, será que as conhecemos realmente? Não serão elas diferentes do que pensamos? O que é gravidade? Como e por que se dá a "transmutação da matéria" na assimilação do bolo alimentar em nosso organismo? O fato é que nada pode ser feito contra as leis da natureza, já que estas são a manifestação divina e Deus jamais pode contradizer-se. Entretanto, contra as leis "que conhecemos", muita coisa pode ocorrer, que não podemos explicar por ignorância nossa. Que diria um selvagem ao ver-nos tocar um botão e, só com isso, acender as luzes de um salão? Gritaria "milagre"! Porque esse gesto iria contra tudo o que ele conhecia.
Antes de entrarmos na análise das diversas hipóteses que podemos formular em nossa incapacidade ignorante, recordemos que Jesus é a encarnação de YHWH, construtor do planeta, como um de seus arquitetos, e portanto conhecia profundamente as mais minuciosas e precisas leis e todos os segredos da física e da química, suas combinações e transformações, a desintegração e reintegração dos átomos, as mutações das moléculas, etc. Com essa base indiscutível e plena de conhecimento, que não poderia Ele fazer? Passemos agora à análise das suposições que podemos imaginar.
a) hipnotismo (alucinação coletiva) ou ilusionismo - Se fora um fato apenas visto ... Mas acontece que, depois de saciados, foram recolhidos doze cestos de fragmentos, matéria sólida e palpável.
b) transporte dos pães - O "transporte" consiste numa desmaterialização do objeto no local em que se encontra; na transferência de suas moléculas astrais pelo espaço até o local desejado, mesmo atra vessando paredes; e na rematerialização das moléculas no local desejado. A possibilidade desse fato é atestada à saciedade por numerosos casos concretos que se realizam em sessões espíritas que contam com a presença de um simples médium de “efeitos físicos", por vezes homem cheio de imperfeições humanas. Poderia ter sido feito por Jesus, sem necessidade, como nós temos, de câmara escura. etc.
c) transmutaçâo da matéria - Já acenamos ao que se passa em nosso organismo: na assimilação alimentar aos tecidos orgânicos. Mas há milhares de outros exemplos: um grão de milho, enterrado no solo, transmuda a matéria sugada da terra em centenas de outros grão de milho. Assim se dá com o trigo e com todos os vegetais. Por que não poderia ter sido realizada uma transmutação instantânea da matéria? Os faquires comuns, na Índia, não fazem que em poucos minutos, com um simples olhar, uma semente brote e a planta cresça, operação que normalmente levaria trinta dias?
d) pura criação mental pela coagulação de fluidos astrais. A única diferença desse fato, com o que qualquer um de nós pode realizar, embora no estágio evolutivo atrasadíssimo em que nos encontramos, é a quantidade e a rapidez. No resto, não. "A fé é a substância das coisas esperadas" (Hebr11:1). Portanto, havendo a substância no plano mental, fácil é condensá-la no plano astral e coagulá-la no plano material. O processo, comprovado pela ciência hodierna, já era conhecido pelo autor do livro de Job, mais de mil anos antes de Cristo. Aí lemos (10:10): "Derramaste-me (o espírito)
no jarro (no ventre materno) como leite, e, como queijo, me coagulaste (o corpo astral)". Assim, aproveitando as moléculas existentes na atmosfera, podiam elas ser condensadas e coaguladas sob forma de pães de cevada ou de peixes. Compreendendo que a energia é uma só, diferenciando-se a matéria pela constituição atômica (número de prótons, eléctrons, etc , em torno do núcleo) e pela estrutura molecular, é viável executar (para quem no saiba e possa!) a tarefa de reunir átomos e moléculas materiais da energia (prana) que se encontra na própria atmosfera, dando-lhes a constituição atômica e a estrutura molecular desejadas.
5. Quanto à interpretação - Todos os comentadores, desde os mais antigos textos cristãos, interpretam
a multiplicação dos pães como uma "figura" ou "símbolo" da Eucaristia, da qual todos podem alimentar-se, sem que jamais termine, multiplicando-se ilimitadamente.
A Eucaristia (palavra grega que significa "ação de graças") ou comunhão, consiste na ingestão de uma
partícula de pão sem fermento como símbolo da introdução, no corpo espiritual, do Cristo Vivo.
Tal como o ensino é feito atualmente, exagerando-se a parte material (de que a partícula de pão se "transubstância" na carne real, no sangue verdadeiro, nos ossos físicos de Jesus), o cristão menos elucidado acredita comer o corpo físico Dele (o que não deixa de constituir uma "antropofagia" ...). No entanto, a realidade da Eucaristia é de uma sublimidade simbólica jamais alcançada em qualquer outra iniciação terrena.
O pão, sem fermento, de trigo puro (sem mistura) é bem a materialização de um dos elementos divinos
mais belos da natureza. Deus, a Essência Absoluta de todas as coisas, encontra-se dentro de tudo o que existe. Mas nós O sentimos mais facilmente nas coisas limpas do que nas sujas, muito mais na beleza de uma flor, do que na podridão do estrume, onde, no entanto, também está. Assim, o cristão evoluído vê, no pão, a substância divina, e prepara-se espiritualmente para sentir que, quando seu corpo físico ingere o pão, ele concomitantemente está recebendo em seu espírito a substância divina; e mais: que assim como seu corpo material assimila a substância do pão a seu organismo, assim seu espírito também assimila, a suas energias, a força da substância divina existente no pão.
Tudo isso traz revivificação de energias espirituais, renascimento de fé, ampliação de fervor e, além de 
tudo, a noção viva e sensível, de que o Cristo Vivo reside realmente dentro de cada um de nós. Divino simbolismo que Jesus aconselha que Seus discípulos repitam todas as vezes que se sentarem à mesa, partindo pão comum, agradecendo-o a Deus e distribuindo-o aos companheiros: "todas as vezes que comerdes esse pão e beberdes esse vinho", "lembrai-vos de mim" (cfr. 1 Cor. 11:24 e Luc. 22:19); e mais claro ainda, quando diz, após distribuir o vinho: "fazei isto todas as vezes que bebeis, em minha recordação" (1 Cor. 11:25).

Não é, pois, rigorosamente falando, a instituição de uma cerimônia especial para comemorar um fato, mas uma recordação constante e específica de um fato que deverá repetir-se a cada vez que ingerirmos pão ou bebermos vinho. Cada vez que nos alimentarmos, recordemos que a Substância última do alimento é a Divindade que nos dá vida. E cada vez que partirmos o pão para dele nos servirmos, assim como cada vez que saborearmos o vinho, recordaremos aquela ocasião em que Jesus o fez, antes de exemplificar-nos, com Seu sacrifício, a estrada a seguir em nossa evolução.
Comemoração simples, ao alcance de todos, dos mais pobres (no reino de Deus não há privilegiados), realizada nas mesas de nossos lares, por mais modestos que sejam, sem necessidade de pompas externas, de ritos exóticos, de ordenanças inibidoras. O simples partir de nosso pão cotidiano é uma recordação, é magnífico e inigualável simbolismo, que temos que realizar com devoção, em comemoração sincera e íntima que devemos fazer "em memória” do Mestre Inefável e Amoroso.
Estamos diante de um ensinamento básico, na iniciação revelada por Jesus a seus discípulos, a qual deverá ser transferida para cada um de nós por meio de nossa individualidade, quando tiver soado a hora de recebê-la.
Sigamos cuidadosamente os passos da narrativa nos quatro intérpretes do pensamento do Mestre Incomparável, atentando para os pormenores que parecem, à primeira vista, nada significar.
Vimos, no último capítulo, que a individualidade desejava retirar-se com seus veículos (discípulos) para uma solidão, a fim de repousar, conversando com eles e ouvindo-os, depois da viagem que haviam feito no plano terreno, adquirindo experiências novas. No entanto, ao chegar ao local escolhido, vê-se cercada "pela multidão" que correra para alcançá-la "na outra margem" ... Representa isso os órgãos e as células de uma personalidade que desperta para a espiritualidade.
E mais uma vez verificamos que a "graça" descerá a nós proveniente do Deus Interno, mas que, antecipando-a, é indispensável que o livre-arbítrio a preceda, correndo-lhe ao encontro. E não a busca na Terra, mas no plano espiritual ("na outra margem", isto é, no outro pólo da matéria).
Ao contemplar aquela multidão sedenta de verdade, o Espírito a acolhe com bondade e lhe "ensina" as grandes e eternas verdades, curando as que estão enfermas e reequilibrando as perturbadas. Os veículos todos ouvem com tamanha atenção, que esquecem a hora de sua alimentação material que entretanto, lhes é indispensável ao prosseguimento da vida no planeta denso.
Os “discípulos", que aqui podem significar a parte mais elevada dos veículos e células, isto é, o intelecto, fazem ver ao Espírito - que vive fora do tempo e do espaço - o avanço da hora terrena e a necessidade de reabastecer de fluidos mais sólidos as células e órgãos astrais e físicos. É necessário que busquem, também, o pão físico.
Começa aqui a lição preciosa. A individualidade afirma que o próprio intelecto pode sustentar os veículos inferiores, sem que eles precisem buscar alhures outro sustento. Há uma admiração, fruto da ignorância a respeito dos "poderes mentais". Vem então a pergunta: "quantos pães tendes"?
O pão material é o alimento básico do corpo físico; mas já foi ensinado que havia outro pão, o "pão sobressubstancial" (cfr. Mat. 6:11, vol. 2.º, página 161), que alimenta ainda mais, porque quem dele come consegue a "Vida Imanente", que dispensa os cuidados mais grosseiros, prescindindo até mesmo
dos materiais densos para seu sustento.
O intelecto esclarece que só existem CINCO pães e DOIS peixinhos.
Voltamos aqui à numerologia dos arcanos. Recordemos.
CINCO, no plano divino, é a Providência ou Vontade Divina que governa a vida universal, alimentando-a e sustentando-a. No plano humano é a vontade do homem que dirige sua força vital. No plano da natureza é a força viva de todo o universo. Além de tudo isso, o CINCO é o símbolo do Cristo (o tetragrama sagrado YHWH) quando mergulhado na carne, formando a representação da mônada encarnada para sua redenção (o pentagrama humano YH-SH-WH, isto é, com as vogais:
YHESHWAH, Jesus). Tudo isso é representado figurativamente pela estrela de cinco pontas, que justamente é o HOMEM (a ponta de cima é a cabeça, as duas laterais. os braços. e as duas inferiores, as pernas).
Temos, pois, nos CINCO pães, um simbolismo perfeito da Mônada Divina mergulhada na carne, formando O HOMEM. Veremos, mais adiante, no capítulo intitulado "O Pão da Vida", que Jesus explica tudo em pormenores; esta multiplicação dos pães serviu de experiência prática, para que o, discípulos pudessem compreender, mais tarde, a explicação teórica.
Resta-nos, ainda, ver os DOIS peixinhos. O arcano DOIS exprime, no plano divino, a segunda manifestação da Divindade; no plano humano, a receptividade feminina; no plano da natureza, os planetas fecundados. Aí temos, pois, a lição superiormente dada para quem possa entendê-la. O intelecto diz que apenas possui, para dar como alimento à multidão de células, o Ser-Humano vivificado pela Divindade e a receptividade passiva (total) da mulher, que está pronta para acolher em si mesma a semente da Verdade, fazendo-a frutificar em si.
A individualidade diz que basta isto. Nada mais é necessário para a alimentar a multidão, além do ser disposto a receber o ensino. E em vista de tudo estar preparado, ergue os olhos ao céu (eleva suas vibrações), parte o pão (separa o espírito da matéria) e, agradecendo a ótima disposição de tudo, distribui a verdade para todos, cada grupo de células reunido em seu conjunto de órgãos ("em grupos de cinquenta e cem") e todos comem e se fartam.
Vem então a ordem de recolher os fragmentos que sobraram (as verdades que possam ser reveladas à grande massa profana) para não se perderem. E ficam repletos DOZE cestos (os DOZE emissários). Já vimos (Vol 2) a significação do arcano DOZE: a esfera da ação do Messias e a redenção completa (veja acima nas págs. 66/67). Então, as verdades recolhidas nos DOZE cestos servirão para o ensino dos "que estão de fora" e que não podem ainda receber a Verdade Total ("muita coisa ainda tenho a dizer-vos, mas não podeis suportar agora", João, 16:12). Assim é que temos, nos Evangelhos sob o véu da letra material (os cestos) os fragmentos das verdades que foram reveladas, e que só puderam chegar até nós em fragmentos e sob formas de alegorias e metáforas, a fim de que a Verdade não fosse
desvirtuada por quem não na compreendesse.
Anotam os evangelistas que estavam presentes a esse banquete sobre a relva verde (em a natureza virgem e fecunda a um tempo), CINCO MIL homens; o CINCO conserva a mesma representação simbólica supracitada; o MIL dá idéia do "sem-limite". Na realidade, refere-se isto à humanidade: CINCO é o HOMEM) englobadamente considerada em seu número ilimitado (MIL) de milhares e milhares de criaturas, e representada - em cada um de nossos corpos físicos - pelas células organizadas em órgãos, tal como a humanidade está organizada em raças e nações.
Capítulo importante como vemos, do qual ainda muitos ensinamentos ainda podem ser extraídos, e
que será mais bem compreendido depois de lida e estudada a lição intitulada "O Pão da Vida". 

Multiplicação dos Pães - Vídeos

http://www.youtube.com/watch?v=KD8vwDvSDrc

http://feeak.com/2012/03/24/a-primeira-multiplicacao-de-paes-e-peixes/

Os Feitos de Jesus


Os Feitos de Jesus

Therezinha Oliveira

Milagres ou fenômenos?

Muitos prodígios e maravilhas são relatados no Velho e Novo Testamentos.
Ante eles, o povo israelita costumava expressar sua admiração.
Quando, por exemplo, Jesus curou o paralítico em Cafarnaum, as pessoas ao redor exclamaram:
"Hoje vimos prodígios" (Lc. 5 :26).
Se falassem em latim, teriam dito: "Miraculum", que vem de "mirare" e significa exatamente prodígio, maravilha, coisa admirável.
Passando para o português, "miraculum" resultou no vocábulo "milagre".
A palavra milagre, veio, porém, a mudar de sentido, por influência da teologia católica, passando a significar uma derrogação das leis naturais, pela qual Deus estaria dando uma demonstração de seu poder. Para ser considerado milagre, um fato teria de ser sobrenatural (fora das leis da natureza) e, como conseqüência, inexplicável e insólito (fora do habitual, do comum).
Antigamente a ignorância humana era muito grande; por isso, numerosos fatos eram tidos como inexplicáveis e, em conseqüência, considerados como sobrenaturais, milagrosos.
O progresso do conhecimento humano vem contribuindo para esclarecer muitos desses pretensos milagres. A ciência revelou novas leis que explicam fenômenos e, assim, foi destruindo lendas, abolindo crendices e superstições.
À medida em que aumenta o rol dos fenômenos e leis conhecidos, o círculo do maravilhoso vai ficando menor.
Ainda resta muito de "maravilhoso" no que diz respeito à ação do espíritos sobre a matéria, porque é campo pouco conhecido da ciência, por enquanto, mas o Espiritismo já nos instrui e orienta sobre esses fenômenos.
À luz da Doutrina Espírita, sabemos que muitos dos feitos admiráveis narrados na Bíblia:
  • são possíveis e verdadeiros e, ainda hoje, se podem dar, aqui e ali;
  • por mais extraordinários que nos pareçam, não são milagres, no sentido de derrogação das leis naturais;
  • explicam-se pela ação dos espíritos sobre os fluidos, com o seu pensamento e vontade e através do seu perispírito;
  • são, portanto, fenômenos que obedecem a leis naturais, leis divinas e, como tal, sábias, perfeitas e imutáveis (nelas nada muda nem precisa ser mudado, nunca).
Quanto mais se vier a conhecer a vida universal, menos se falará em sobrenatural ou milagres.
Em compensação, cada vez mais se confirmará a presença do elemento espiritual e os efeitos de sua ação em nós e ao nosso redor.
Nesses fenômenos admiráveis, cada vez mais reconheceremos a grandeza de Deus, que se revela majestosa na sabedoria com que rege o universo através de suas leis soberanas, a tudo prevendo e provendo, sem que nenhuma delas precise ser complementada, corrigida ou anulada.

Os fenômenos que Jesus efetuou

Jesus realizou muitos fenômenos admiráveis e dos tipos mais variados: curas de enfermos físicos, afastamento de espíritos perturbadores, clarividência, telepatia, multiplicação de pães e peixes, levitação, transfiguração, profecias, etc.
Realizou-os por ser um espírito altamente evoluído, que apresentava faculdades espirituais em elevado grau de desenvolvimento e sabia usar seu pensamento e vontade de modo superior.
Seu perispírito permitia-lhe mais amplo exercício das faculdades espirituais porque era formado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres e constituía um reservatório dos mais puros e ativos fluidos.
A explicação espírita, demonstrando que os feitos de Jesus foram fenômenos naturais, não diminui a figura do Mestre nem desmerece a sua capacidade de ação; ao contrário, a confirma; e exalta a qualidade dos fenômenos por ele produzidos.
Kardec examinou de modo geral os chamados "milagres", nos capítulos XIU e XIV de "A Gênese" e também os milagres do Evangelho, no capítulo XV.
Nas aulas que se seguirão, abordaremos os diferentes fenômenos espirituais realizados por Jesus, explicados e classificados conforme o conhecimento espírita.

Para que os realizava

Geralmente, era para prestar benefícios a necessitados. Ou, então, como "sinal" de sua missão (para os israelitas, fenômenos transcendentes eram "sinais" de que a pessoa estava investida de autoridade e poder espiritual, para falar e agir em nome de Deus, como seu enviado).
Também os fazia como recurso natural necessário ao cumprimento de sua tarefa missionária.
Exemplificando :
Prestação de benefício a necessitados.
  1. Espontânea
Compadecido, "ressuscita" o filho único da viúva, em Naim (Lc. 7:11/17).
  1. A pedido
Transforma água em vinho, nas bodas de Caná da Galiléia, atendendo a solicitação de sua mãe (Jo 2: li).
À saída de Jericó, cura um cego, atendendo a seus rogos (Mc, 10:46/52).
  1. Para andamento de sua tarefa
Levita sobre as águas do lago para ir ter com os discípulos, no barco (Mt. 14:22/23).
Profetiza quem os discípulos encontrarão, à entrada de Jerusalém, para prepararem a páscoa (Lc. 9:28/31).
  1. Como "sinal" de sua missão
Cura leproso "para servir de testemunho ao povo" (Mc. 1:44).
Pedro diz em seu discurso, após fenômeno do Dia de Pentecostes:
Jesus, o Nazareno, homem aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos o sabeis (Atos. 2:22).

Quando não os realizava, e por quê.

Muitas vezes Jesus foi convidado (e até mesmo desafiado) a realizar fenômenos para com eles atestar seu poder e autoridade espiritual.
Às vezes atendia, às vezes não; porque nunca efetuava fenômenos se fosse apenas para satisfazer curiosidade vã ou caprichos alheios.
Também não os realizava se as condições fossem desfavoráveis (falta de merecimento nas pessoas, exposição desnecessária ante os adversários).
Exemplificando:
Fariseus e saduceus, tentando-o, lhe pediam mostrasse um sinal vindo do céu.
Jesus argumentou : sabem, pelo aspecto do céu, dizer se fará bom ou mau tempo; como não podem discernir sobre os sinais dos tempos (espirituais)?
. Significava que podiam analisar a situação para entender. (Mt. 16:1/13).
E "arrancou do íntimo do seu espírito um gemido" :
"Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado senão o de Jonas" (Mt. 16:4/11, Mc. 8 :11/13). (Aludia ao fenômeno de sua ressurreição, ressurgimento espiritual, no 3° dia.)
Após expulsar os vendilhões do Templo, foi interrogado:
Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas?
Destruam este santuário, e em três dias o reconstruirei.
Falava não do Templo mas do santuário do seu corpo(Jo. 2:18).
Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois há muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal (Lc. 23:8/9). E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia.
Em Nazaré, "não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles" (Mt. 13:58).
Irmãos de Jesus querem que ele deixe a Galiléia e vá para a Judéia e lá realize seus feitos, a fim de que todos o vejam e o conheçam. Diziam isso porque não acreditavam em Jesus. (Jo.7:1/9). Ele responde: "meu tempo não é chegado", e continua na Galiléia.

Reação dos que presenciavam os feitos.

Quando Jesus realizou seu 1° fenômeno (transformação da água em vinho) "manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele" (Jo. 2:11).
Os populares, ante os fenômenos de Jesus, diziam:
Jamais vimos coisa assim Hoje vimos prodígios! (Mc. 2:12, Lc. 5:26.)
Quando vier o Cristo, fará, porventura, maiores sinais do que este homem tem feito? (Jo. 7:31.)
Os adversários procuravam encontrar, ainda, motivo de acusação.
Quando Jesus curou um cego de nascença, num sábado, disseram:
Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado.
Mas outras pessoas argumentaram:
Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais?(Jo. 9:16.)
Quando afastou de um homem o espírito que o deixava mudo e o homem voltou a falar, asseguraram:
Ele expele os demônios pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios.
Ao que Jesus respondeu:
Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si mesmo; e o seu reino não subsistirá. (Mt. 12:22/32, Mc. 3:20/30 e Lc.l1:14/23.)
Sobre os que não acreditaram em Jesus, "embora tivesse feito sinais na sua presença", João Evangelista explica que foi porque (Jo. 12:37/43): tinham endurecido seus corações; ou - tinham medo de serem expulsos da sinagoga ("amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus").

Fenômeno e entendimento

Os fenômenos podem ajudar na elaboração da fé, porque ensejam a observação da vida espiritual, constatando sua realidade, permitindo adquirir conhecimentos sobre ela.
Mas se não foram entendidos em suas causas e finalidades, poderão ficar reduzidos a efeitos meramente exteriores e passageiros.
Ex.: Uma cura física sem a renovação moral de quem foi curado nem a edificação dos que a presenciaram.
Mais importante do que presenciar fenômenos é saber entender a vida espiritual.
Por isso, a Tomé, que só se convenceu da imortalidade e ressurgimento de Jesus quando o viu materializado, o Mestre falou:
Por que me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram. (Jo. 20:29.)
Consideremos, também, que há encarnados e desencontrados querendo se fazer passar por porta-vozes divinos e, para isso, apresentam fenômenos (anímicos/mediúnicos) ou os imitam fraudulentamente, com o intuito de induzir ao erro, explorar e dominar as pessoas.
Jesus já nos havia alertado contra esses falsos profetas, avisando que eles surgiriam "operando grande sinais e prodígios para enganar, se possível fora, aos próprios eleitos" (Mt. 24:24).

Agradecendo pelos fenômenos

Vendo os feitos admiráveis de Jesus, o povo judeu "dava graças a Deus que concedera tal poder aos homens ".
E com razão, pois foi Deus quem criou os seres com tais faculdades e, também, os recursos da vida universal (Mt. 9:8), sobre os quais os seres agem para produzir os fenômenos.
Aprendamos também a dar graças a Deus, quando alguém ou nós mesmos realizarmos feitos espirituais bons e admiráveis, porque, em última análise, o fazemos apenas como intermediários divinos.

Os feitos de quem segue a Jesus

"Aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai". (Jo. 14:12.)
Quem segue Jesus aprende com ele a agir espiritualmente; em conseqüência, produzirá fenômenos semelhantes; e poderá fazer coisas ainda maiores, porque Jesus ficou pouco tempo na Terra e só deu algumas demonstrações do que é possível fazer.
"E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho". (Jo. 14:13.)
E Jesus ainda lhes continuaria dando, do Além, assistência espiritual.
Observação: "Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; (Mc. 16:17/18); se impuserem as mãos sobre os enfermos, eles ficarão curados". Quem segue os ensinos de Jesus consegue autoridade moral e ação sobre os fluidos, podendo afastar maus espíritos e curar enfermos.
Mas as alusões a "serpentes" e "beber coisa mortífera" devem ser entendidas como simbolismo. Vide Lucas lo:17/20. Segundo manuscritos antigos, o Evangelho de Marcos terminava no versículo 8 do capítulo 16, mas a narrativa parecia estar interrompida abruptamente. Talvez se houvessem perdido os versículos finais e, para substituí-los foi escrito o fecho atual, que "apresenta-se como um breve resumo das aparições do Cristo ressuscitado", mas "cuja redação é sensivelmente diversa da que Marcos habitualmente usa, concreta e pitoresca. " Justamente nesse novo fecho, de versículos de 9 a 20, é que se fala dos "sinais" que tão estranhos soam no contexto da mensagem cristã.
"E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam". (Mc. 16:20.)
A narrativa detalhada do labor dos seguidores de Jesus, bem como dos sinais com que o Mundo Maior confirmava a missão espiritual deles, é feita por Lucas, em "Atos dos Apóstolos".
Aprendendo e servindo com Jesus, teremos sua assistência espiritual e também realizaremos fenômenos espirituais, embora não no mesmo grau dos que ele realizava.
Com a nossa evolução, chegaremos a realizar mais e melhor, produzindo "muitos frutos", glorificando assim ao nosso Criador, que nos criou exatamente para o cumprimento desses desígnios. (Jo: 14:8.)
Porém, por mais fenômenos que realizemos, e por mais admiráveis que sejam, não será por eles que nos categorizaremos como seguidores de Jesus e, sim, pelo amor com que agirmos, porque:
"Novo mandamento vos dou : que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei.
"Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros." (Jo. 13:34/35.)
Estudos espíritas do Evangelho – EME Editora

A Multiplicação dos Pães e outros “Milagres” de Jesus: Uma Análise Espírita


A Multiplicação dos Pães e outros “Milagres” de Jesus: Uma Análise Espírita

O Espiritismo esclarece que o chamado “milagre” não existe da forma como é admitido por um grande número de criaturas. Realmente, se considerarmos o dito “milagre” como algo totalmente contrário às Leis Naturais, teremos que considerar que tal fenômeno não deixa de ser algo meramente mitológico. A Doutrina Espírita explica que os chamados “milagres” são fenômenos frequentemente incompreendidos e/ou ignorados tanto pela “Ciência Oficial” como pela Religião. Assim, enquanto a Ciência Oficial, tida por muitos como materialista, rejeita as evidências da ocorrência do fenômeno, justamente por se negar a estudar qualquer fato de pressupostas implicações espirituais, as Religiões Ortodoxas exploram o mesmo evento como “algo divino”, que derrogaria as Leis Naturais, admitindo que tais fenômenos seriam inerentemente incompreensíveis por se tratarem de “Mistérios”. Assim, os religiosos, apesar de sua evidente limitação na explicação destes fatos, manteriam uma espécie de poder intelectual sobre tais eventos, aproveitando do descaso dos cientistas. A manutenção deste tipo de postura por grande número de representantes dos dois supracitados grupos faz com que a maioria das criaturas permaneça na mais profunda ignorância a respeito dos princípios básicos que explicam os mecanismos pelo qual os supostos “milagres” ocorrem.

No entanto, as Leis Naturais incluem não somente aquelas que regem a matéria, mas igualmente aquelas que estão relacionadas aos fenômenos espirituais. O Espiritismo fazendo uma união sinérgica entre Ciência e Religião, que é inédita na história da humanidade, estabelece que os “milagres” são fenômenos perfeitamente explicáveis e estudáveis e que foram taxados como “espetaculares”, “maravilhosos” e “inadmissíveis” intelectualmente, por ignorância das suas causas e mecanismos de ação.

Assim sendo, é possível entender que se a Química, a Física e a Biologia são ciências que estudam fenômenos observados dentro da esfera do mundo material, o Espiritismo estuda as Leis Naturais que regem o Mundo Espiritual e o Intercâmbio com o Mundo Físico. Portanto, seria interessante que o estudioso do Espiritismo, que busque lograr um aprofundamento nos conteúdos espíritas, apresentasse um conhecimento básico sobre as ciências materiais, uma vez que nesse “intercâmbio com o mundo físico”, aspectos complexos dessa interface espírito-matéria são estudados.

Dentro desse contexto, o entendimento dos chamados “milagres” passa necessariamente pela compreensão da realidade psicossomática do ser humano. Essa realidade é formada por uma série que realidades minimamente independentes e interagentes que seriam o Espírito propriamente dito (A Mente), o Corpo Mental, o Corpo Espiritual (Perispírito ou Modelo Organizador Biológico), o Duplo Etérico (Corpo Vital) e o Corpo Físico ou Material.

O Perispírito e o Duplo Etérico como realidades intermediárias em termos de materialidade entre o Espírito (A Mente) e o Corpo Material do indivíduo encarnado representam peças chaves em quaisquer fenômenos de natureza paranormal. Logo, os fenômenos mediúnicos e os fenômenos anímicos observados em todos os tempos na história da humanidade têm nas propriedades desses dois sistemas pré-requisitos fundamentais para as suas respectivas compreensões.

As chamadas “Curas Espirituais”, por exemplo, que são observadas em todas as culturas, ritos e religiões, somente podem ser explicadas a partir do entendimento dessa inter-relação entre os componentes do “complexo humano” encontrado no indivíduo reencarnado. De fato, tais fenômenos, na maioria das vezes, envolvem componentes materiais, semi-materiais e espirituais.

Os “Passes”, as “cirurgias espirituais”  e processos similares de curas físicas e mentais envolvem, portanto, a administração de recursos materiais, semi-materiais e espirituais.

A atuação de ordem mais materializada estaria associada principalmente às propriedades do duplo etérico (corpo vital) do médium que exerce essa ação fluídica. De fato, o duplo etérico ou corpo vital seria composto predominantemente de fluido vital, o qual, uma vez exteriorizado, poderia ser chamado de ectoplasma, conforme nomenclatura proposta pelo “Pai da Metapsíquica” Charles Richet. É importante salientar que o ectoplasma sofre significativa influência da alimentação do médium, pois o “corpo vital” ou “corpo energético” dos alimentos ingeridos constituem um importante componente desse fluido vital que consiste no elo entre o perispírito propriamente dito e corpo físico. Além disso, o fluido vital seria uma espécie de “combustível” para o corpo físico, sendo, por conseguinte, importante influência para a definição prévia e provisória do tempo de vida física do indivíduo encarnado.

A influência da alimentação na constituição do fluido vital é uma das causas da necessidade de disciplina alimentar por parte dos médiuns, sobretudo daqueles que desenvolvem trabalhos com grande doação de energia fluídica, como é o caso dos chamados “médiuns de cura”. De fato, a “mediunidade de cura”, entre várias peculiaridades, não deixa de ser também uma mediunidade de efeitos físicos, pois, mesmo atuando predominantemente sobre o perispírito do necessitado, o efeito esperado e desejado de cura do corpo material é obviamente uma espécie de “efeito físico”, tal como as célebres materializações de espíritos.

Desta forma, assim como os Espíritos desencarnados sentem a influência da matéria, a energia semi-material de natureza mais densa, como é o caso do fluido vital, poderia igualmente influenciar a organização da matéria dos corpos físicos. Obviamente, os Espíritos esclarecidos quanto a esse intercâmbio fluídico utilizam desses mecanismos para os diversos objetivos a que estão vinculados, sejam eles elevados ou não. Os Espíritos superiores administram recursos em favor dos indivíduos encarnados. Poderíamos citar o livro “Nosso Lar”, onde encontramos uma passagem em que o segundo marido de Zélia, a viúva de André Luiz,  estava com a saúde muitíssimo debilitada e foi recuperado fisicamente através de Passes Espirituais de Narcisa e André Luiz, que utilizavam, entre outros recursos, da administração de essências retiradas de mangueiras e eucaliptos por Mentores Espirituais. Essa passagem ilustra que o corpo vital, sendo também uma realidade dos vegetais, pode contribuir juntamente com o ectoplasma animal e outros fluidos espirituais para gerar saúde física.

Esse intenso intercâmbio fluídico entre o mundo espiritual e os indivíduos encarnados explica uma série de fenômenos conhecidos da literatura espírita, como, por exemplo, a vampirização por parte de entidades muito atrasadas do fluido vital de um suicida e de vários cadáveres de bois no matadouro, conforme narração de André Luiz na obra “Missionários da uz”. Nesta mesma obra, Espíritos inferiores que “habitavam” um lar sem barreira de proteção magnética, em função da pouca elevação espiritual da família, aspiravam os fluidos que emanavam dos alimentos que eram cozinhados, haurindo dos mesmos fluidos vitais que eram prazerosos a estes espíritos, obviamente muito vinculados à matéria. Ainda em “Missionários da Luz”, no capítulo intitulado “Passes”, é narrado um interessante caso relacionado a uma jovem gestante que estava literalmente passando fome, devido a dificuldades econômicas de seu marido. Consequentemente, as condições físicas dessa mulher e de seu feto eram de grande fragilidade, implicando em grande risco de morte para o bebê. Os Mentores Espirituais auxiliaram intensamente essa senhora através dos Passes, utilizando de fluidos vitais emanados pelos médiuns passistas encarnados, logrando melhorar sensivelmente o quadro de saúde dela e de seu filho.

Pode-se citar igualmente interessante caso de Chico Xavier, quando o maravilhoso médium visitou uma família com sérios problemas espirituais para fazer o que hoje poderíamos denominar de “atendimento fraterno”. Chico, que adorava bananas, se encantou com um cacho de bananas muito formosas que havia na mesa. No decorrer da conversa com os familiares, entretanto, Chico Xavier ficou extremamente chocado ao ver duas entidades espirituais inferiores entrarem no recinto e literalmente comerem as bananas. Ora, como um Espiríto desencarnado pode comer a banana?! Posteriormente, Emmanuel esclareceria a Chico Xavier que o referido lar não tinha barreiras vibratórias em função de uma sintonia mental com entidades negativas, em função de seus sentimentos, pensamentos e hábitos negativos do ponto de vista moral. Assim, seres espirituais atrasados e com perispíritos muito materializados e que teriam grande necessidade de sensações de ordem material não teriam impedimentos maiores para entrarem no lar, podendo gerar obsessões e quadros lamentáveis em função da afinidade vibratória. Ao sentirem fome, estes Espíritos comeram, de fato, as bananas, ingerindo o corpo vital das mesmas. Por outro lado, além de eliminarem grande parte do conteúdo vital das bananas, deixaram nas mesmas impregnações fluídicas negativas, fazendo com que as bananas se tornassem alimentos perigosos para aqueles que as ingerissem, tanto sob o aspecto físico quanto do ponto de vista espiritual.

O Espírito organiza o Perispírito, pois o Espírito haure dos constituintes da atmosfera de um determinado planeta, a constituição do seu próprio Perispírito, conforme nos ensina “A Gênese”, de Allan Kardec. Logo, assim como o Espírito determina o nível fluídico da constituição do seu Perispírito, dependendo da matéria-prima haurida na atmosfera em função da sua evolução espiritual, o Perispírito modela e direciona grande número de fenômenos biológicos no corpo de carne.

Assim sendo, as chamadas curas espirituais deveriam ser mais propriamente denominadas de “Curas Perispirituais”, pois o Perispírito é o principal foco das influências magnéticas proprocionadas pela fluidoterapia, incluindo aí os Passes, a Água Magnetizada e a intervenção fluídica do mundo espiritual. Neste contexto, é importante frisar que a legítima cura verdadeiramente espiritual é a transformação moral da criatura para o bem, pois elevando a vibração, em função da elevação de valores espirituais e melhoria de sentimentos, pensamentos e ações, iniciaria efetivamente o processo de tratamento real da causalidade das enfermidades espirituais que são a causa primária das afecções perispirituais e físicas.

O próprio Divaldo Franco narra que, em suas palestras, ocorre um número incontável de cirurgias no perispírito dos indivíduos que estão assistindo a conferência, pois, em função da elevação de pensamentos, sentimentos e propósitos na reunião, acontece uma maior elevação de condição espiritual dos assistentes, favorecendo maior sintonia fluídica com os protetores espirituais e viabilizando a eficácia da intervenção espiritual.

No famoso caso evangélico da multiplicação de pães e subseqüente alimentação das multidões com cinco pães e dois peixes, Jesus pode ter se valido do somatório dos ectoplasmas gerados por Ele e por seus Apóstolos, além dos fluidos dos Espíritos desencarnados superiores que estavam acompanhando a passagem. Ademais, essências vegetais podem ter sido trazidas para o local, o que explicaria a sensação de saciedade dos presentes. Com relação à multiplicação dos pães propriamente dita, poderia ter sido simplesmente um transporte ou uma materialização em que o auxílio dos Apóstolos, que eram grandes médiuns de efeitos físicos, pode ter contribuído de forma significativa. Obviamente, nesta análise estamos admitindo a possibilidade da ocorrência literal destes fatos, o que pode não ter acontecido exatamente como os textos relatam.

Leonardo Marmo Moreira

Multiplicando Paes e Peixes



Lucas 9, 11-17

Multiplicando Paes e Peixes

11 Logo que a multidão o soube, o foi seguindo; Jesus recebeu-os e falava-lhes do Reino de Deus. Restabelecia também a saúde dos doentes.
12 Ora, o dia começava a declinar e os Doze foram dizer-lhe: Despede as turbas, para que vão pelas aldeias e sítios da vizinhança e procurem alimento e hospedagem, porque aqui estamos num lugar deserto.
13 Jesus replicou-lhes: Dai-lhes vós mesmos de comer. Retrucaram eles: Não temos mais do que cinco pães e dois peixes, a menos que nós mesmos vamos e compremos mantimentos para todo este povo. (Pois eram quase cinco mil homens.)
14  Jesus disse aos discípulos: Mandai-os sentar, divididos em grupos de cinquenta.
15 Assim o fizeram e todos se assentaram.
16 Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os a seus discípulos, para que os servissem ao povo.
17 E todos comeram e ficaram fartos. Do que sobrou recolheram ainda doze cestos de pedaços.

A passagem que acima,  se nos apresenta como um acontecimento que à luz da razão humana, parece inexplicável. Contudo, de posse do conhecimento Espírita, das leis divinas, das diversas forças que vertem do Criador, pelo cosmo todo,  e principalmente um pouco mais conscientes de nossas limitações intelectuais diante de DEUS, sabemos que tal ocorrido foi, e ainda é possível. E nisso nada há de sobrenatural, inexplicável ou místico.
 Numerosa multidão seguia Jesus até uma região “deserta”. Muito embora, não tendo outras preocupações e nem mesmo a de para onde estavam indo, aquela multidão seguiu fielmente ao Rabi de Nazaré, bebendo da fonte pura de sua sabedoria e bondade. Estando distante da cidade, com a noite que se aproximava, perceberam que para voltar ficaria difícil, estando longe, poderiam desmaiar com a fraqueza e o cansaço. Sem contar que crianças , idosos e enfermos acompanhavam a Caravana de Luz. Ficar, também se tornara difícil situação, pois não havia alimentos para todos.
Aproveitando do que os discípulos dispunham, que eram 5 pães e 2 peixes. Mandou que o povo, aproximadamente 5000 pessoas, se assentasse em grupos de 100 e de 50 indivíduos.
 Usando de sua bondade e da conexão com o Pai, o Mestre Jesus, dotado de incalculáveis faculdades fluídicas e magnéticas processou ali um fenômeno físico que possibilitou a multiplicação daqueles materiais, de forma a alimentar a todos os necessitados que ali esperavam: “…E todos comeram e ficaram fartos. Do que sobrou recolheram ainda doze cestos de pedaços…”
Do ponto de vista Científico-Espirita podemos explicar esse fenômeno, entendendo que tudo o que existe no universo é composto basicamente de um só elemento, o fluído cósmico universal, e suas diversas combinações com outros fluídos específicos para cada tipo de matéria, além das forças magnéticas atuantes em todos os corpos, em todas as partes do Universo.
Se assim não fosse, não teriam sentido as palavras do próprio mestre, quando proferiu que  “não veio destruir nenhuma lei, mas sim fazê-las cumprir, e ampliar o seu entendimento ”.
Outra passagem que evidencia isso é quando o Mestre nos disse: “ Vós sois Deuses, e tudo o que eu faço, podeis também fazer, se assim quiserdes de todo o coração…”. Ou seja, todo o que foi feito por ele, tem uma explicação física, e está dentro do que se permite para um planeta como o nosso. As leis da física, química, biologia, eletromagnetismo,entre outras, estão todas disponíveis aqui nesse laboratório Divino para o uso do homem, conforme seu adiantamento, intenção e necessidade. Contudo, os fatores que bloqueiam todos esses eventos, são ligados as imperfeições morais da humanidade, que reduzem o padrão vibratório do espirito, tornando o homem cada vez mais materializado, e por assim, mais escravizado a condições precárias e grotescas de energia.
Jesus ao praticar esse fenômeno, pôs ali, naquelas energias, todo o seu amor e seu carinho. Deu o melhor de si !! É preciso sim, ter a compaixão que Jesus teve, esse amor pelos irmãos e repartir o que se tem de melhor. Isso sim é um mecanismo de elevação energética. Repartir algo não quer dizer só coisas materiais. Se reparte amor, felicidade, fraternidade, solidariedade, humildade…
Nos dias de hoje, esse o alimento ( o Espiritual ) que é mais escasso para a humanidade e cabe a todos nós, que temos um pouco disso, repartir e multiplicar isto junto ao nosso próximo, chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram.
Se os grandes líderes do mundo, entendessem pelo anúncio do evangelho e aprendessem a viver esse amor, a fome no mundo não continuaria a ser somente temas em debatas, artigos, livros, revistas e teses para doutorados e nem estaria circunscrita a coisas materiais.
A humanidade tem fome de amor !!
 Seguir Jesus, nosso modelo e guia, é sempre a escolha acertada. Ele nos é justo e fiel, e com ele, nada nos faltará…
MUITA PAZ A TODOS !!

Multiplicação dos pães - Herculano


Plateia - Francisco Carlos Domingues. Professor, como o espiritismo explica a multiplicação dos pães por Jesus Cristo?
J. Herculano Pires - Ah sim, a multiplicação doa pães. O problema da multiplicação dos pães é um problema de efeito físico. Nós conhecemos muitos fenômenos semelhantes obtidos em sessões espíritas. Não a multiplicação dos pães propriamente dita, mas a multiplicação de objetos e a modificação de objetos.
Os efeitos físicos, como nós já vimos aqui, são produzidos pela ação da mente sobre a matéria. Essa ação mental pode provir do próprio médium, seria então um fenômeno anímico; ou provir da ação de uma inteligência extra-física, ou seja, de uma inteligência espiritual, como nós vemos no espiritismo, através do médium. Então seria a mente do próprio espírito conjugada com a mente do médium agindo sobre a matéria para produzir um fenômeno. Por exemplo, na metapsíquica estudou-se muito os fenômenos de ectoplasmia que é um fenômeno através do qual emana do corpo do médium uma força orgânica em forma fluídica, que pode ser, inclusive, captada e examinada em laboratório como geralmente se fez. Essa força se manifesta como uma matéria orgânica, às vezes em forma líquida, às vezes em forma puramente fluídica, às vezes, mesmo, em forma de uma massa esbranquiçada. Por isso mesmo ela é captável, pode se colher uma poção dela, como fez o Barão von Schrenck-Notzing, em Berlin nas suas pesquisas, para submeter isto a exame de laboratório.
Então, verificou-se o seguinte: essa força ectoplásmica pode produzir objetos. Pode formar objetos. Acredita-se, portanto, que a multiplicação dos pães por Jesus, revelou-nos esse mesmo fenômeno, naturalmente, de uma forma mais intensa porque é produzido por um espírito bastante elevado, muito superior à nossa condição humana.
MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

48.- A multiplicação dos pães é um dos milagres que mais têm intrigado os comentadores e alimentado, ao mesmo tempo, as zombarias dos incrédulos. Sem se darem ao trabalho de lhe perscrutar o sentido alegórico, para estes últimos ele não passa de um conto pueril. Entretanto, a maioria das pessoas sérias há visto na narrativa desse fato, embora sob forma diferente da ordinária, uma parábola, em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo.

Pode-se, todavia, perceber nela mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio. É sabido que uma grande preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente presa a uma coisa fazem esquecer a fome. Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material de comer.

Prevendo esse resultado, Jesus nenhuma dificuldade teve para tranqüilizar os discípulos, dizendo-lhes, na linguagem figurada que lhe era habitual e admitido que realmente houvessem trazido alguns pães, que estes bastariam para matar a fome à multidão. Simultaneamente, ministrava aos referidos discípulos um ensinamento, com o lhes dizer: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Ensinava-lhes assim que também eles podiam alimentar por meio da palavra.

Desse modo, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um efeito fisiológico, natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no ascendente da palavra de Jesus, poderosa bastante para cativar a atenção de uma multidão imensa, ao ponto de fazê-la esquecer-se de comer. Esse poder moral comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que tem de ser considerada como alegoria. Esta explicação, aliás, o próprio Jesus a confirmou nas duas passagens seguintes.

O fermento dos fariseus

49.- Ora, tendo seus discípulos passado para o outro lado do mar, esqueceram-se 
de levar pães. - Jesus lhes disse: Tende o cuidado de precatar-vos do fermento dos
fariseus e dos saduceus. - Eles, porém, pensavam e diziam entre si: É porque não
trouxemos pães.

Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Homens de pouca fé, por que
haveis de estar cogitando de não terdes trazido pães? Ainda não compreendeis e não
vos lembrais quantos cestos levastes? - Como não compreendereis que não é do pão
que eu vos falava, quando disse que vos guardásseis do fermento dos fariseus e
saduceus?

Eles então compreenderam que ele não lhes dissera que se preservassem do
fermento que se põe no pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. (S. Mateus,
cap. XVI, vv. 5 a 12.)


O pão do céu

50.- No dia seguinte, o povo, que permanecera do outro lado do mar, notou que
lá não chegara outra barca e que Jesus não entrara na que seus discípulos tomaram,
que os discípulos haviam partido sós - e como tinham chegado depois outras barcas de
Tiberíades, perto do lugar onde o Senhor, após render graças, os alimentara com cinco
pães; - e como verificassem por fim que Jesus não estava lá, tampouco seus
discípulos, entraram naquelas barcas e foram para Cafarnaum, em busca de Jesus. - E,
tendo-o encontrado além do mar, disseram-lhe: Mestre, quando vieste para cá?

Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que me procurais, não
por causa dos milagres que vistes, mas por que eu vos dei pão a comer e ficastes
saciados. -Trabalhai por ter, não o alimento que perece, mas o que dura para a vida
eterna e que o Filho do Homem vos dará, porque foi nele que Deus, o Pai, imprimiu seu
selo e seu caráter.

Perguntaram-lhe eles: Que devemos fazer para produzir obras de Deus? -Respondeu-
lhes Jesus: A obra de Deus é que creiais no que ele enviou.

Perguntaram-lhe então: Que milagre operarás que nos faça crer, vendo-o? Que
farás de extraordinário? - Nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está
escrito: Ele lhes deu de comer o pão do céu.

Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que Moisés não vos
deu o pão do céu; meu Pai é quem dá o verdadeiro pão do céu, - porquanto o pão de
Deus é aquele que desceu do céu e que dá vida ao mundo.

Disseram eles então: Senhor, dá-nos sempre desse pão.

Jesus lhes respondeu: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá
fome e aquele que em mim crê não terá sede. - Mas, eu já vos disse: vós me tendes
visto e não credes.

Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim tem a vida eterna. -Eu
sou o pão da vida. - Vossos pais comeram o maná do deserto e morreram. - Aqui
está o pão que desceu do céu, a fim de que quem dele comer não morra. (S. João, cap.
VI, vv. 22-36 e 47-50.)

51.- Na primeira passagem, lembrando o fato precedentemente operado, Jesus dá claramente a entender que não se tratara de pães materiais, pois, a não ser assim, careceria de objeto a comparação por ele estabelecida com o fermento dos fariseus: «Ainda não compreendeis, diz ele, e não vos recordais de que cinco pães bastaram para cinco mil pessoas e que dois pães foram bastantes para quatro mil? Como não compreendestes que não era de pão que eu vos falava, quando vos dizia que vos preservásseis do fermento dos fariseus?» 
Esse confronto nenhuma razão de ser teria, na hipótese de uma multiplicação material. O fato fora de si mesmo muito extraordinário para ter impressionado fortemente a imaginação dos discípulos, que, entretanto, pareciam não mais lembrar-se dele.

É também o que não menos claramente ressalta, do que Jesus expendeu sobre o pão do céu, empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. «Trabalhai, diz ele, não por conseguir o alimento que perece, mas pelo que se conserva para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará.» Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. «Eu sou, declara ele, o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê nunca terá sede.»

Tais distinções, porém, eram por demais sutis para aquelas naturezas rudes, que somente compreendiam as coisas tangíveis. Para eles, o maná, que alimentara o corpo de seus antepassados, era o verdadeiro pão do céu; aí é que estava o milagre. Se, portanto, houvesse ocorrido materialmente o fato da multiplicação dos pães, como teria ele impressionado tão fracamente aqueles mesmos homens, a cujo benefício essa multiplicação se operara poucos dias antes, ao ponto de perguntarem a Jesus: «Que milagre farás para que, vendo-o, te creiamos? Que farás de extraordinário?» 
Eles entendiam por milagres os prodígios que os fariseus pediam, isto é, sinais que aparecessem no céu por ordem de Jesus, como pela varinha de um mágico. Ora, o que Jesus fazia era extremamente simples e não se afastava das leis da Natureza; as próprias curas não revelavam caráter muito singular, nem muito extraordinário. Para eles, os milagres espirituais não apresentavam grande vulto.

("A Gênese", capítulo XV, itens 48 a 51)

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Qual a explicação que Kardec considera mais provável para o episodio da "multiplicação dos pães"?

b) O que seria o fermento dos fariseus e saduceus? 

c) Qual o significado dado por Jesus para "pão do céu"?