sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O ARGUEIRO E A TRAVE NO OLHO


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – ALLAN KARDEC
CAPÍTULO X : BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS
ITENS 9 E 10 : O ARGUEIRO E A TRAVE NO OLHO


             “Porque vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? Ou, como dizes a teu irmão: Deixa-me tirar-te do teu olho o argueiro, quando tens no teu uma trave? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás como hás de tirar o argueiro do olho de teu irmão.” (Mateus, VII: 3 a 5)


             A palavra argueiro significa partícula leve, cisco; por extensão: coisa insignificante.
             Trave significa viga; pedaço de madeira ou de outro material utilizado para sustentar ou reforçar uma estrutura.

             Os orgulhosos e os pseudo-sábios sorriem á vista da descrição dessa situação inverossímil.

             Mas, esse é mais um exemplo da preocupação de Jesus em usar de coisas simples e chamativas, às vezes pela situação absurda, a fim de que suas palavras não se perdessem e se fixassem na memória dos que o ouviam, porque ele sabia da necessidade de um longo tempo de desenvolvimento espiritual para que grande parte da humanidade entendesse seus ensinos.

             As palavras ficaram, foram entendidas por muitos, mas, muitos mais, somente agora, estão percebendo seu real significado e sua importância, e outros muitos, nem chegaram até aí.

             Quanto mais se estuda os Evangelhos, mais Jesus se agiganta, se eleva, se sublima aos nossos olhos, à nossa ainda imperfeita capacidade de compreensão e entendimento, e seus ensinos de mais de dois mil anos, mostram-se atuais e cada vez mais necessários a toda humanidade da Terra.

             Nessas palavras, citadas por Mateus, Jesus destaca a facilidade que o homem tem em perceber os erros alheios e a dificuldade que tem em perceber os seus.

             “Para julgar-se a si mesmo, seria necessário poder mirar-se num espelho, transportar-se de qualquer maneira fora de si mesmo, e considerar-se como outra pessoa, perguntando: Que pensaria eu, se visse alguém fazendo o que faço?”

             Admirável Kardec, com sua sabedoria de tornar sua escrita acessível a todos, escrevendo de maneira simples sobre coisas difíceis de serem entendidas e vividas!

             Olhar-se para si mesmo, como se outra pessoa fosse, é a maneira melhor, talvez a única, de conhecer-se a si próprio, idéia já conhecida desde antes de Sócrates, que a divulgou há mais de trezentos anos antes de Cristo nascer.

             Isso é possível ao homem, observando, perseverantemente, as suas reações aos acontecimentos, às situações da vida e às pessoas com as quais se relaciona ou convive.

             Analisando essas reações com objetividade, sem complacência, nem justificativas, como se outra pessoa fosse, vai - se conhecendo a si próprio.

             A partir desse hábito, fica mais fácil, conhecer suas qualidades em desenvolvimento, as que estão quais novas plantinhas, ainda frágeis, requerendo cuidados e atenções especiais, suas imperfeições e suas qualificações negativas.

             Aceitá-las todas, as boas e as más, na compreensão de ser um Espírito em evolução, portanto, sujeito a erros, equívocos e omissões, é um novo passo.

             Não parar aí, a fim de que o progresso, que é inevitável, não precise ser feito através de dores e sofrimentos.

             Querer progredir no bem, pelo bem e para o bem, no cumprimento das leis divinas, exige que se combata, até eliminá-lo, o mal que existe dentro do ser, criado por ele mesmo, ao mesmo tempo em que se esforce, o mais possível, para desenvolver as virtudes por brotar, as já plantinhas novas e as mais crescidinhas.

             Essa é a tarefa maior dos habitantes da Terra, a finalidade das inúmeras reencarnações.

             Nas descobertas sobre si mesmo, o homem vai perceber que o orgulho que o leva a sentir-se ofendido e o impede de perdoar, também está presente na dificuldade que tem de ver-se como é, no disfarce dos “seus próprios defeitos, tanto morais quanto físicos”.

             É o orgulho que o leva a perceber e destacar no outro o mal que se recusa a ver em si. Isso é falta de caridade, porque ressaltando o defeito alheio é como se dissesse: “Eu não faço isso, sou melhor do que ele”.

             Querendo que os outros o vejam como ele pensa que é ou deseja parecer ser, destacando os defeitos alheios, pensa que esconde os seus, desviando a atenção.

             Por isso Kardec afirma que “o orgulho, além de ser a fonte de muitos vícios, é também a negação de muitas virtudes. Encontramo-lo no fundo e como móvel de quase todas as ações. Foi por isso, que Jesus se empenhou em combatê-lo, como o principal obstáculo ao progresso.”

             Assim, o orgulhoso não é ou tem dificuldade em ser caridoso, indulgente, tolerante, generoso, paciente, obediente, resignado, manso, pacífico...

             Busquemos, todos nós, que consideramos Jesus como nosso Guia e Modelo, procurar ver e destacar o bem que existe nos outros, sendo benevolentes com suas faltas, tanto quanto desejamos que os outros o sejam para conosco.

             Deixemos o rigor e a exigência para conosco, na luta contra nossas imperfeições morais, com a certeza de que todos nós trazemos em nós a perfectibilidade, ou seja, a capacidade de tornarmo-nos perfeitos.

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